quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Atualizações

Muitas pessoas têm me procurado para saber mais sobre Trieste e, principalmente, para pedir o contato da pessoa responsável pelos estágios. Muitas anos já se passaram desde que estive lá e muitas coisas mudaram. A pessoa que era a responsável, não é mais e ainda não tenho o contato de quem seria. Visto que muitas pessoas me procuram, tentarei ir atrás dessas informações para deixá-las mais atualizadas e disponíveis pra quem tiver interesse. Quem quiser me escrever, envia um e-mail lineernandes@gmail.com que é certo que irei visualizar.

Beijos!!

domingo, 9 de junho de 2013

Doença?

As pessoas costumam ter medo da loucura. 


A mente humana é muito e muito e absurdamente MUITO alucinada. Acredito que uma pequena parcela da população acessa tais partes sem se dar conta, sofrem com isso e são chamados de loucos; uma outra pequena parte acessa de forma consciente por meio do uso de algumas substancias químicas alucinógenas ou técnicas de alteração do estado de consciência; e uma outra parcela que não acessa nada, apenas se aproxima (maioria da população) e treme ao se aproximar. A diferença da primeira para a segunda é que na primeira a pessoa não tem controle do início, não tem idéia tempo de duração, não se prepara para tal vivência e se perde/envolve nos enlaces da mente. Desta forma, o que em uma torna-se uma escolha com começo, meio e fim, na outra, torna-se uma parte do eu. 


Hoje vou falar daqueles que apenas se aproximam das múltiplas sensações e emoções da mente humana e tremem com isso. Primeiramente gostaria de dizer que gosto da idéia de que a loucura anda com nós, sem a notarmos, e andará com todos considerados seres racionais. Uso a palavra loucura não no sentido de uma doença, mas no sentido de uma alteração do nosso estado "normal" de consciência, podendo essa alteração ser geradora de prazer e bem-estar ou geradora de um intenso sofrimento. Vale a pena lembrar que o conceito de loucura como doença é bem recente na nossa sociedade. A indústria farmacêutica soube se aproveitar muito bem deste conceito, de modo a criar medicações para todo tipo de estado alterado não produtivo socialmente e também soube se aproveitar muito bem das fraquezas dos seres humanos ao se verem próximos de seus sofrimentos, fazendo com que estes acreditassem estar doentes. Afinal, é muito mais confortável eu ter como resposta que o meu sofrimento é algo que não me pertence, que não fui eu quem o produziu "mas que foi um probleminha de origem biológica que está me causando uma baixa produção um hormônio x e  y da felicidade". Assumir as próprias fraquezas e loucuras poucos fazem, cutucar as feridas e trabalhá-las terapeuticamente a longo prazo, muito menos, afinal das contas, "não sou louco, tempo é dinheiro e me passa logo essa cartelinha de remédios aqui".


Trabalho em um serviço de saúde mental e vejo o quanto o sofrimento humano tem sido transformado em doença por MUITOS médicos, que produzem doentes, taxando qualquer tristeza/desânimo em doença, e criando dependentes de benzodiazepínicos (diazepam, clonazepam, rivotril etcc - os tranquilizantes e ansiolíticos da vida) gerando mais um problema de saúde pública. Vejo umas coisas absurdas como: moro na periferia, perdi um filho assassinado, meu outro que está vivo é usuário de droga e rouba as coisas de casa, meu marido é dependente de alcool, me bate quando faz uso, trabalho 12 horas ao dia, tenho dificuldade para dormir, me sinto desanimada, às vezes falto no trabalho por isso. O mais absurdo dessa história é a de terem delegado ao  poder médico (saúde) a espectativa de solucionar um problema de contextode vida, cultura e estrutura social, e o pior é que muitos psiquiatras acreditam que tem esse poder. Por exemplo, a única coisa que o médico escuta dessa história é: "tenho dificuldade para dormir, me sinto desanimada, às vezes falto no trabalho por isso". Ele diz: "é depressão, toma uma fluoxetina que passa". Não passa! Pois o problema desta pessoa não vai passar com esse comprimido, uma vez que o problema não é esse, mas sim de ordem social e de como a pessoa se organiza psiquicamente frente a estas situações.

Ok. Aí você me pergunta: Qual o problema de querer me manter longe das minhas questões por meio de um comprimido?? Nenhum problema para mim, mas para quem faz isso, talvez um dia perceba que as tristezas,  as perdas, a falta de dinheiro, de emprego, de pessoas próximas e as diversas imprevisões da vida, continuarão a acontecer, com comprimido ou sem comprimido. 


quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Tradução do Texto "Io non sono un animale incivile"


Aqui vai a tradução do texto que meu amigo Pino escreveu carinhosamente a meu pedido.
Conheci Pino no Centro de Saúde Mental que estagiei. No início não sabia se ele era usuário, trabalhador ou voluntário, mas como ele começou a frequentar o grupo que eu e uma colega coordenávamos, pude saber mais dessa grande pessoa.

Eu não sou um animal irracional.
Eu sou meus pensamentos e minhas palavras, sou o ambiente que me circunda, sou esta sociedade. Esta sociedade controvérsia, indiferente e superficial.
Eu sou a minha doença mental, aquele que fui e aquele que serei.

Eu me curarei.

Gostaria que soubessem que eu era uma pessoa com muitos problemas, muitas e muitas vezes toquei o fundo, muitas e muitas vezes me agarrei com todas minhas forças a um fio aparentemente imperceptível chamado esperança, mesmo quando parecia que a mesma não existia mais. Errei muitas e muitas vezes. Errarei ainda mais, mas não tenho mais medo.

Eu me curarei.

Para se sair da crise precisamos de instrumentos e ferramentas indispensáveis para mudar, para começar uma vida possível, sobretudo na sutil e difícil passagem entre estar/viver mal, ao estar/viver bem. Momentos cansativos que vão afrontar, sustentar e fortalecer a confiança e a esperança.
Se trata de preencher um vazio, construir um objetivo, uma identidade possível, onde “eu sou eu e não minha doença mental”. Um jogo contínuo, onde os instrumentos servem para mudar e as mudanças se tornam novos instrumentos. Uma pessoa sedada não pode fazer mal, mas também não pode fazer bem.

Jeito Basagia

“O tratamento de qualquer doença, do corpo e da mente cansa, um cansaço que com ajuda adequada se pode suportar, e ainda assim, não é o cansaço que mais incomoda. O que incomoda é o momento que vem depois. Quando uma pessoa começa estar suficientemente boa para se arriscar na vida, no cotidiano, na dita normalidade. Tendo vivido por tanto tempo na outra parte da barricada, não se sabe ainda como se faz para estar dentro deste novo jogo onde tudo é possível e, justamente por isso, extremamente perigoso.”

Gostaria tanto de começar a traçar um novo percurso no qual pudesse vislumbrar a luz da cura.

A cura não é necessariamente libertar-se dos fármacos, libertar-se de um serviço de atendimento, libertar-se de um psiquiatra ou psicólogo.
A cura é a liberdade em escolher a nossa estrada, de encontrar um trabalho, uma companhia, amigos. A cura é poder assistir a um belo concerto ou a um espetáculo teatral. A cura é vencer o estigma que ainda existe na vida de quem vive essa experiência. A cura é, sobretudo, substituir a palavra “TOLERÂNCIA” pela “ACEITAÇÃO”. A cura é criar um modo em que não exista contenção, abusos farmacológicos, manipulação psíquica.
A cura é uma aliança entre quem usufrui dos serviços de saúde mental e aqueles que fornecem esses serviços.
A cura é acabar com as instituições manicomiais, com a violência psíquica e física, com a indiferença
Enlouquecer é possível, curar é possível.

Pode ser um sonho, uma utopia ou simplesmente uma direção.
Um ponto de partida?
Quem conta é uma amiga, Alice Banfi, autora do livro autobiográfico “Tanto scappo lo stesso”:

"Era 2004, o recordo bem. Raramente era internada no SPDC (Serviço Psiquiátrico de Diagnóstico e Tratamento) da minha cidade.
Era internada em uma comunidade reabilitativa próxima a Torino. Rodava todos os serviços de Piemonte e proximidades. Fui mandada pra lá e pra cá. Haviam muitos rostos conhecidos, alguns novos.
Um rapaz chinês, Matteo Su, estatura baixa, falava de modo desconexo e veloz.
Era assustado e agitado, lembrava uma criança, suscitava em nós, outros pacientes, uma grande ternura.
Vinha sempre ao meu quarto me ver desenhar e pedir emprestado canetinhas.
Uma vez, voltou com um desenho nas mãos, cheio de cores. Tinha desenhado flores e sobre o desenho tinha escrito “para Alice”. Era mimado e protegido por todos...todos nós.

Há tempos não sabia dos direitos das pessoas que vivem o sofrimento psíquico, não sabia nem mesmo que existiam. Hoje sei que uns dos direitos dos usuários dos serviços de saúde mental é aquele de ser chamado pelo próprio nome e sobrenome.
Qualquer enfermeiro chamava Matteo “CinCin” ou “Cinciunlá” e coisas do gênero...
Isso porque Matteo era chinês, porque não podia e não sabia como se defender.
Um dia de tarde estávamos em quatro a conversar, próximos a uma enfermeira: juntamente a nós estava também Matteo.
Sara, uma enfermeira, o chama pela milésima vez pelo estúpido sobrenome: “Ei, Cinciunlá dá uma acalmada!” Matteo reage: Eu me chamo Matteo!!! E batia os pés no chão, enquanto repetia com força seu nome.
Sara si virou, o olhou, indicou com a mão e braço esticado, e disse: Fly down.
Rapidamente Matteo parou de falar, parou de bater os pés. Ela continuou: abaixa a crista, voe baixo.
Matteo ajoelhou-se.
“Muito bem, sempre abaixo”.
Matteo se jogou no chão, com os braços esticados a frente do corpo.
“Isso, agora se arraste!”
E Matteo começou a se arrastar, com o rosto arrastando no chão. Se arrastava como um verme em direção ao corredor.
A enfermeira se virou e entrou na enfermaria, fechando-se lá.”.

Que coisa se pode dizer?
Que coisa se pode penar?
Que coisa se pode dizer?

Acredito que é um desafio no trabalho unir-se: Nós, usuários, com vocês, trabalhadores. Todos juntos devemos buscar mudanças, potenciar o serviço de psicoterapia e eliminar qualquer forma de contenção, física e psíquica.

Era isso que Basaglia tinha em mente?

Esse texto que me foi pedido é uma grande oportunidade para nos conhecer e unirmos nossas vozes, para tentarmos continuar a construir, melhorar e a criticar. É uma possibilidade. É uma das tantas possibilidades que a vida nos coloca a disposição.

Nós devemos lutar dia por dia, hora por hora, minuto por minuto para viver, para existir.
Não devemos permitir ou delegar e ninguém, seja trabalhadores da saúde mental, familiares ou associações de voluntariado, de escolher ou decidir por nós, mas de colaborarmos um com os outros, sem medo de falar.

Se já esteve mal e agora está melhor, seja grato pela oportunidade que lhe foi dada.
Se está sofrendo, saiba que encontrará pessoas humanas, sensíveis, altruístas, amigas, que terão certamente um segundo plano. Se não as encontra ou não as veem, mude o caminho. O mundo é vasto, imenso, rico de oportunidades.

Se é um usuário dos serviços de saúde mental, saiba que passaremos por dificuldades.
Nós somos aqueles que estão em teste na sociedade.
Podemos aceitar ou não, podemos nos esconder ou reagir, demonstrar o nosso valor.
Demonstrar que estamos bem, que estamos melhores, ou explicar francamente quais são as raízes de nossos sofrimentos.

Ajude os outros, sobretudo, se ajude.

Pino, Trieste.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Reativando o Blog


Pessoal, muito tempo sem postar nada e mesmo assim muitas pessoas continuam acessando o blog e me procurando por informações sobre Trieste. Tempo faz que queria dar continuidade ao blog, mas tem momentos que a nossa desorganização mental é tanta, que sentar por alguns minutos para escrever parecem impossíveis de serem realizados. Hoje estou reativando o blog, não mais escrevendo de Trieste, pois já estou no Brasil. A idéia é continuar abordando questões da saúde mental, traçando paralelos com a Itália sempre que achar pertinente. 

Para atualizá-los, estou trabalhando em um CAPS II Adulto na periferia de São Paulo, onde o principal fator adoecedor é a miséria e a violência.

Como prometido e não feito na última postagem, farei a tradução do texto de Pino, usuário do serviço de saúde mental e militante. Espero conseguir fazê-la hoje e já postá-la. 

E por favor, continuem perguntando, dicutindo e colocando pontos que enriqueçam o conteúdo do blog e de nossas mentes.

Abraços


sexta-feira, 13 de abril de 2012

Io non sono un animale incivile.

Mais de um mês longe do meu blog e sem justificativas para isso, preguiça talvez. Para compensar essa demora trago um dos post mais importantes,se não o mais, de todos que aqui estão e virão. No centro de saúde mental que trabalhei (pois é, já se foram meus 3 meses) adquiri grandes amigos usuários do serviço, entre eles, um em especial chamado Pino. Pino é usuário do serviço há uns bons anos, muito engajado e  grande articulador de discussões no campo da saúde mental, antes de minha partida de Trieste, perguntei se ele poderia me escrever um texto expondo sua visão sobre a saúde mental de Trieste. Ele aceitou com muita alegria e ao me entregar disse: "Eu escrevi o texto com um único objetivo: passar uma mensagem de esperança". Postarei o texto original em italiano e logo menos em português. Aí vai: 

Io non sono un animale incivile
Io sono i miei pensieri e le mie parole, sono l'ambiente che mi circonda, sono questa società. Questa società controversa, troppo indifferente e superficiale.
Io sono il mio disaggio mentale, quello che ero e quello che sarò.
Io guarirò.
Vorrei che si sapesse che io ero una persona in grande difficoltà, più e più volte ho toccato il fondo, più e più volte mi sono aggrappato con tutte le mie forze ad un filo apparentemente impercettibile che si chiama speranza anche quando sembrava che essa non esistesse più. Ho sbagliato più e più volte. Sbaglierò ancora, ma non ho più paura.
Io guarirò.

Per uscire dalla crisi abbiamo bisogno di strumenti, attrezzi indispensabili per cambiare, per cominciare una vita possibile, soprattutto nel sottile e difficile passaggio dallo stare e vivere male, allo stare e vivere meglio/bene. Momenti faticosi, che vanno affrontati, sostenuti, corroborati con la fiduccia e con la speranza.
Si tratta di riempire un vuoto, costruire un'oggettività/identità possibile, dove "io sono io e non il disaggio mentale". Un gioco continuo, dove gli strumenti servono per cambiare e i cambiamenti diventano nuovi strumenti. una persona sedata non può fare male, ma neanche bene.

COSÌ BASAGLIA

"La cura di qualsivoglia malattia, del corpo e della mente costa fatica, una fatica che con l'aiuto adeguato si può sostenere, e tuttavia non è quella fatica a spaventare. Quello che spaventa è quello momento che viene subito dopo. Quando una persona comincia a stare sufficientemente bene per potersi arrischiare dentro la vita, la quotidianità, la cosidetta normalità. Avendo vissuto per tanto tempo dell'altra parte della barricata, non si sa ancora, come si fa a stare in questo nuovo gioco dove tutto è possibile e proprio per questo estremamente pericoloso"

Mi piacerebbe tanto iniziare a tracciare un percorso che possa farci intravedere la luce della guarigione.

La guarigione non è necessariamente liberarsi dei farmaci, liberarsi di un servizio, liberarsi da un psichiatra o uno psicologo.
La guarigione è la libertà di scegliere la nostra strada, di trovare un lavoro, una compagna, degli amici. La guarigione è poter assistere a un bel concerto o uno spettacolo teatrale. La guarigione è sconfiggere lo stigma che ancora esiste nei confronti di chi vive questa esperienza. La guarigione è sostituire la parola "TOLLERANZA con ACCETAZIONE". La guarigione è fare in modo che non vi siano contenzioni, abusi farmacologici, manipolazioni psichiche.
Guarigione è un'alleanza tra chi usufruisce dei servizi e chi fornisce quei servizi.
Guarigione è l'abolizione dell'istituzione manicomiale, della violenza psichica e fisica, dell'indifferenza.
Impazzire si può, guarire si può.

Può essere un sogno, un'utopia o semplicimente una direzione.
Il punto di partenza?
Lo racconta un'amica, Alice Banfi, autrice del libro, autobiografico, "Tanto scappo lo stesso":

"Era il 2004, me lo ricordo bene. raramente venivo ricoverata nell'SPDC della mia città.
Ero ricoverata in una comunità riabilitativa vicino a Torino. Giravo tutti i reparti del Piemonte e dintorni. Fui mandata lì, ancora lì. Cerano molte facie conosciute più qualcuna nuova.
Un ragazzo cinese, Matteo Su, piccolino di statura, parlava in modo sconnesso e veloce.
Era spaventato e agitato, sembrava un bambino, suscitava in noi altri pazienti una grande tenerezza.
Veniva spesso in camera mia a guardarmi disegnare e a chiedermi in prestito dei pennarelli.
Una volta tornò con in mano un disegno per me, pieno di colore. Aveva disegnao dei fiori e sopra ci aveva scritto "per Alice". Era coccolato e protetto da tutti...Tutti noi.
Ai tempi non sapevo dei diritti del malato, non sapevo nemmeno che ne avessimo. Ora so che uno dei diritti del malato è quello di essere chiamato col proprio nome e cognome.
Qualche infermiere chiamava Matteo "Cin Cin" o "Cinciunlà" e cose del genere...
Questo perché Matteo era cinese, perché non poteva e non sapeva difendersi.
Un pomeriggio tardi stavamo in quattro a chiacchierare, vicini all'infermeria: in piedi con noi c'era anche Matteo.
Sara, un'infermiera, lo chiama per l'ennesima volta con uno stupido sopranome: "Ehi, Cinciunlà datti una calmata!" Matteo reagì: Io mi chiamo Matteo!!! e batteva i piedi per terra, mentre ripeteva con forza il suo nome.
Sara si voltò, lo guardò, lo indicò con la mano e il braccio teso, e forte disse: Fly down.
Matteo smise subito di parlare, smise di battere i piedi. lei continuò: Abassa la cresta, vola basso.
Matteo si mise in ginocchio.
"Bravo, sempre più basso".
Matteo si accasciò a terra, con le braccia protese in avanti, sul pavimento.
"Ecco ora striscia!"
E Matteo cominciò a strisciare, con la faccia sul pavimento. Strisciava come un verme verso il fondo del corridoio.
L'infermiera si voltò dell'altra parte, ed entrò in infermeria, chiudendosi dentro."

Cosa si può dire?
Cosa pensare?
Cosa fare?

Credo sia doveroso lavorare sodo, unirsi: Noi pazienti, voi operatori. Tutti insieme dovremmo cercare di cambiare le cose, potenziare il servizio di  psicoterapia ed eliminare qualsiase forma di contenzione, fisica e psichica.

Era questo che Basaglia aveva in mente?

Questo scritto che mi è stato chiesto è ina grande opportunità, per conoscerci unire le nostre voci, per provare a continuare a costruire, migliorare, criticare. È una possibilità. È una delle tante possibilità che la vita ci metterà a dispozione.
Noi dobbiamo lottare giorno per giorno, ora per ora, minuto per minuto, per vivere/esistere.
Non dobbiamo permettere/delegare a nessun altro che sia esso operatore sanitario, famigliare o associazione di volontariato di scegliere/decidere per noi, ma collaborare con loro e non aver paura di parlare.

Se sei stato male ed ora stai meglio, sii grato per l'opportunità che ti è stata offerta.
Se stai ancora soffrendo, sappi che se troverai persone umane, sensibili, altruistiche, amiche, avrai per certo una seconda opportunità. Se non la trovi o non la vedi, cambia il cammino. Il mondo è vasto, immenso, ricco di opportunità.

Se sei un fruitore dei servizi, sappi che noi siamo stati quelli in difficoltà.
Noi siamo quelli sotto esame della società.
Possimao accettarlo o no, possiamo nasconderci o reagire, dimostrare il nostro valore.
Dimostrare che siamo guariti o che stiamo meglio o spiegare schiettamente quelli sono le radici dei nostri mali.

Aiuta gli altri, fallo soprattutto per te.
Pino da Trieste"

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Falar ou não de sofrimento

           A coisa que mais me surpreendeu aqui foi a falta de espaço para falar de si, das angústias, dos medos, assim como das conquistas e das maneiras de driblar pensamentos que consomem o cérebro de boa parte dos usuários dos serviços de saúde mental. Foi estranho chegar em um serviço onde não há muito espaço para falar de sofrimento.
Essa é a forma deles trabalharem.  Até aqui, nos quatro centros de saúde mental que tive a oportunidade de acompanhar, esse espaço simplesmente não existe. O psicólogo, ao meu ver, acaba ficando sem uma ação muito definida: não são feitas conversas privadas entre usuário e psicólogo, muito menos com a família do usuário, que pouco participa do processo.
O encontro com o psiquiatra dura minutos e é feita rapidamente, pois, como no Brasil, a correria nos centros é grande. Segundo os usuários a conversa é somente sobre a medicação. Mais uma vez, não há tempo para falar de si.
Na verdade, penso que não há interesse em entrar nesse assunto, pois falar de sofrimento é como abrir a porta de um quartinho sujo, antigo e cheio de "tranqueiras". Deve-se bagunçar tudo, limpar coisa por coisa, para depois dar início a arrumação. É cansativo. Exige tempo, atenção, dedicação e uma energia a ser dada ao próximo que não é fácil.

Cerati, Gorizia 1968, Ospedale psichiatrico
       No centro em que estou, participo de um grupo diário e, neste espaço, quando algum dos usuários tenta falar de si e de seus sofrimentos, a psicóloga, também coordenadora do grupo, imediatamente intervém e diz que aquele não é espaço para falar de sofrimento. É difícil ver e lidar com isso sem poder intervir. Principalmente porque os usuários constantemente dizem sentir falto desse espaço. 
      A dinâmica daqui, até onde percebi, é conseguir que as pessoas estejam inseridas socialmente.  Que tenham casa e emprego. Feito isso, está tudo certo. Funciona desse modo. As pessoas são assistidas e realmente participam dos diversos circuitos sociais. Isso, talvez, compense um pouco essa falta para alguns.
       Para os que sentem necessidade de uma atenção e de um espaço para trabalhar tudo o que passa em sua mente, resta pagar por uma terapia ou psicoterapia, o que está fora do circuito da saúde pública. Aqui, a opção mais barata de algum desses serviços custa 80 euros e, com esse preço, nem todos podem pagar e muito acabam ficando sem esse que, para mim, é um dos espaços importantes nos cuidados da saúde mental.
       Dessa forma, Trieste se faz diferente do Brasil. Tenho dito que muitas coisas daqui se contrapõem às do Brasil, e é daí que se agrega muito aprendizado desse estágio.

Cerati, Gorizia 1968, Ospedale psichiatrico

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Gli utenti

   Os centros daqui, como dito no post anterior, não são repletos de atividades, por exemplo, no que eu estou, tem um grupo de leitura de jornal toda manhã, um de dança e outro de pintura, sendo ambos uma vez na semana. No resto do período, a circulação pelos usuários se faz em função de passar em consulta com o psiquiatra, pegar a medicação e fazer a refeição. Para fazer a refeição, não basta ser usuário, deve ter a indicação e estar no projeto terapêutico, até onde eu sei. Acho isso ótimo, pois se o acesso é livre, seriam poucos que se colocariam a ir a um restaurante, a um bar ou a fazer ir ao mercado para fazer a própria refeição. No CAPS-III que estagiei em São Paulo, todos usuários podiam almoçar e tomar o lanche da tarde lá, isso fazia com que muitos se centralizassem lá pelo centro a espera dos horários intitucionais do café, do remédio, do almoço, novamente do remédio e, por fim, do lanche da tarde. Nisso, o dia já havia passado e a vida se passava naquele espaço.

Venturini, Trieste 1984, CSM di Domio - la mensa presso l'EZIT, Ente Zona Industriale di Trieste

 Os usuários 
    Como em todo lugar de saúde mental, tem aqueles que estão todos os dias no centro, fumando seu cigarro, abordando pessoas da equipe para saber da medicação x e recepcionando quem chega e quem sai. Nessas duas semanas, pude perceber duas diferenças bem interessantes e marcantes em relação à autonomia* e ao posicionamento que os usuários assumem frente a um profissional da equipe. 
  *Ao falar de autonomia, tenho em mente a concepção de proposta por Roberto Tykanori (atual cooredenador de Saúde Mental do Min. da Saúde) de que uma dependência restrita, limita as possibilidades de ações e diminui a autonomia, dessa maneira, a autonomia se faz conforme se amplia as dependencias, pois assim obtem-se mais possibilidades de estabelecer escolhas e ordens para a vida.
    Dessa forma, muitos usuários circulam pela cidade, dividem casa com um outro usuário (muito comum aqui), possuem bolsa-trabalho em alguma cooperativa (muito forte aqui na Itália), pagam suas contas, vão ao mercado etc, possuem um cotidiano que não se limita ao centro de saúde.
   Sobre o posicionamento, é muito comum ver usuário se confrontando profissional e deixando claro suas vontades, direitos e opiniões, mas aqui vejo que o jeito italiano contribui, pois esse confronto vem tanto do lado dos usuários como dos profissionais. É comum ver um falando alto com o outro, falando o que pensa, numa conversa clara e, às vezes, sincera e rígida demais por parte dos profissionais, ao meu ver. Falo isso porque ainda não vi um espaço para se pensar meio termo, em outras propostas, negociar.
    Quando comparo com o Brasil, vejo que os profissionais brasileiros (em geral) possuem mais sutileza e sensibilidade na abordagem com o usuário. Pode ser que isso seja uma diferença cultural, que confronta com o modo italiano de ser, e essa é uma dificuldade que tenho e que talvez permaneça até minha partida, a de saber o que são posturas da cultura italiana e o que é ou deveria ser a postura que o serviço  de saúde mental daqui.


Butturini, Trieste 1973-1977, Bar del manicomio, l'attuale bar "Posto delle Fragole"